Base Sólida e Relações Não-mono

 Eu estava lendo um texto sobre não-monogamia e era muito legal, apesar de alguns pontos que me saltavam à consciência como uma alfinetada de moralismo e quando chegava ao final o autor dizia que ele mesmo gostaria de conhecer melhor a não-monogamia, mas preferia ter uma base sólida com uma parceira primária antes de abrir.

 Já tem um tempo que me incomoda tanto texto sobre Não-monogamia(NM) escrito por gente que não tem uma plena vivência de relação NM pois sempre têm pontos que não condizem com a realidade de quem se encontrou nos modelos NM de relação. Daí a importância de um movimento como a Não-monogamia Política. Fica notável a diferença entre pessoas que buscam se relacionar de forma não-hierárquica, aquele casal padrãozinho que tem um fetiche de swing e também a escala de cinza e cores entre esses dois extremos.

 E esse é um ponto que eu quero voltar num outro texto, que fale melhor dessas estruturas. Por hora eu quero voltar pra ideia de base sólida. E que base é essa? Que segurança é essa que uma relação primária oferece? Eu vejo como uma segurança emocional de continuidade do afeto, do amparo nas questões da vida. E existe uma segurança na manutenção de frequência sexual também. 

 A gente cresce ensinado que é mais fácil centralizar essa expectativa de segurança numa pessoa só e isso é muito enraizado no inconsciente coletivo da nossa sociedade. Que é mais simples o contrato mútuo em que um centraliza no outro todas suas necessidades e expectativas de continuidade do afeto físico, mental e até espiritual. E mais simples que os dois criem as mesmas expectativas tiradas dos mesmos ideais monogâmicos. 

 Eu, particularmente, não conheci a pessoa que escreveu essa tal da monogamia. Ela também não me conheceu, porque a monogamia tá aí tem muito tempo antes de eu nascer. Então eu gosto muito dessa coisa de me descobrir Não-mono porque eu me descobri mesmo! A prática NM mudou como eu me relaciono com o mundo, a vida e todas as pessoas. Isso só aconteceu pois a Monogamia dita como o indivíduo deve se relacionar com tudo isso e tudo isso foi revisado nas minhas experiências de vida enquanto pessoa não-monogâmica. Um fetiche é um campo da vida, um modelo de relacionamento é como você lida com a sua vida inteira.

 Eu já centralizei minha vida toda nas relações monogâmicas, vivi os confortos e dores disso. Há 4 anos e meio eu abri uma relação monogâmica e essa relação ainda existe com muito Amor e carinho, nós simplesmente nos encontramos na forma não-mono de se relacionar conosco e com os outros. Hoje eu possuo outras relações e e as pessoas que eu me relaciono são autônomas e têm seus próprios afetos também.
 Nesses 4 anos e meio eu passei por muita coisa, meus valores monogâmicos foram todos questionados, e eu vivi, igualmente, os confortos e dores das minhas relações não-monogâmicas. Quem me conhece sabe as maravilhas e os perrengues que eu passei.

 Fato é que caiu por terra a noção tradicional de que "base sólida" é uma única pessoa onde você centraliza suas expectativas de segurança na vida.

 Hoje, quando eu penso em base emocional sólida, é por toda uma rede de afetos que meu coração se sente amparado. Essa rede de afetos passa pelas minhas relações afetivo-sexuais, pelas minhas amizades de infância, pelas amizades fortes dos últimos anos, pela minha família, pelas minhas amizades de trabalho, pela arte e por mim! Passa pelo meu afeto por mim, é importante que se cultive afeto por si em pé de igualdade do cultivo de afeto pelos outros, mesmo que cada coisa floresça diferente.

 É tipo... Amar a ao próximo como a si mesmo! Ouvi alguém falar por aí e achei legal, mas não é de minha autoria não. 

 Essa é a primeira postagem desse blog, eu volto numa próxima, não sei quando. 

 Um beijo, meus amores.

-Bruno Lobão

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